MUITO PIOR DO QUE A ENCOMENDA
A
primeira semana de Dilma Rousseff como presidente reeleita foi de amargar. Nem
o mais pessimista dos pessimistas acreditava que, em apenas cinco dias úteis, o
governo revelasse que a situação econômica do país é pior do que se imaginava.
Agora, se tem a noção clara do porquê o Palácio do Planalto adiou a divulgação
de indicadores para depois das eleições. Temos um Brasil quase de joelhos.
|
A
taxa Selic é a média de juros que o governo brasileiro paga por empréstimos
tomados dos bancos
|
Muitos
dizem que foi surpreendente a alta de juros promovida pelo Banco Central na
última quarta-feira (29). Não foi. Na verdade, o Comitê de Política Monetária
(Copom) já deveria ter elevado a taxa básica (Selic) muito antes, devido à
persistência da inflação no teto da meta, de 6,5%. Não o fez pelo desejo de
Dilma de ser reeleita. O problema é que a situação se complicou de uma tal
forma que, mesmo com a Selic passando de 11% para 11,25% ao ano, a carestia
poderá fechar 2014 acima do teto da meta.
Na
próxima semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
divulgará o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dará um sinal explícito
nessa direção. A previsão do Banco Santander é de que o indicador tenha subido
0,50% em outubro, cravando 6,68% em 12 meses. Se confirmado, será o segundo mês
seguido em que o custo de vida superará o limite de tolerância definido pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN). Até setembro, a inflação bateu em 6,75%.
Isso
mostra que a presidente Dilma plantou inflação para colher juros. Se realmente
estiver disposto a retomar o controle da carestia, o BC terá que avançar no
processo de aumento da Selic 2015 adentro. O aperto não vai parar na reunião de
dezembro do Copom, quando se espera alta de 0,5 ponto na taxa básica, para
11,75%, o que fará com que a petista encerre o primeiro mandato com os juros um
ponto percentual acima da taxa que recebeu de Lula.
Ou
seja, se o arrocho dado pelo BC realmente for forte, com a Selic passando de
12%, como espera boa parte dos analistas, há um enorme risco de o Produto
Interno Bruto (PIB) fechar o primeiro ano do segundo mandato de Dilma com
retração. Juros altos inibem investimentos e o consumo e batem pesado na
indústria, que está em recessão profunda — são quatro trimestres consecutivos
de queda.
Leia também
Blogs e Colunas
O
quadro fica ainda mais assustador quando se olha para o resultado das contas
públicas. O país registrou, entre janeiro e setembro, deficit primário, o que
não se via desde 1997, quando o governo passou a cumprir metas fiscais. O
buraco consolidado do setor público no período chegou a R$ 15,7 bilhões. Como
não conseguiu poupar para pagar juros da dívida, o rombo nominal atingiu R$
224,4 bilhões, o equivalente a 6% do PIB, dado de país em crise.
Diante
desse estrago nas finanças públicas, não haverá maquiagem que dê jeito. Sem
condições de cortar gastos, o jeito será o governo repassar a conta para os contribuintes.
Depois da alta dos juros, da energia, da gasolina, será a vez de elevar os
impostos. Dilma, como se vê agora, saiu pior do que a encomenda.
Deficits
gêmeos
Não
será fácil a vida do próximo ministro da Fazenda, seja quem for o escolhido por
Dilma Rousseff. Além da missão de tirar a economia do atoleiro em que se
encontra e de retomar o controle da inflação, terá que enfrentar o que os
especialistas chamam de deficits gêmeos, uma combinação explosiva de rombos nas
contas públicas e externas. Dados consolidados pelo Banco Central mostram que,
quando incluídos os gastos com juros, o buraco nas finanças do governo chega a
6% do PIB. Nas transações correntes do país com o exterior, o deficit atinge
3,7% do Produto, e poucos acreditam que ficará estacionado nesse nível.
Para
Tony Volpon, diretor do Departamento de Pesquisas para as Américas da Nomura
Securities, os números são preocupantes. “A história do Brasil mostra que,
todas as vezes em que os deficits público e externo chegaram a 4% do PIB, sempre
houve uma crise ou foram necessários ajustes severos para evitar o pior”,
afirma. Ele ressalta que, prevendo mudanças na política econômica, investidores
e agências de classificação de risco estão dando um salvo conduto ao Brasil.
Mas é preciso cautela.
Descaso
com a meritocracia
»
Estudo realizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 305 instituições
públicas federais revela que 46% delas não avaliam o desempenho de seus
funcionários. O índice é ainda mais elevado quando se trata do reconhecimento
de servidores de alto desempenho. Do universo pesquisado, 83% não leva esse
fator em conta. “Precisamos discutir os gargalos do país para avançar na busca
de soluções”, destaca o presidente do TCU, ministro Augusto Nardes.
Debate
com governadores
»
Os temas considerados mais relevantes pelos tribunais de conta serão debatidos,
em 17 de novembro, com os governadores eleitos, em Brasília. O seminário “Pacto
Pela Boa Governança: Um Retrato do Brasil”, realizado pelo TCU em parceria com
os Tribunais de Contas estaduais, apresentará o quadro atual, estado por
estado, nas áreas de saúde, educação, Previdência, infraestrutura e segurança
pública.
Fisco
nega porrada
»
A Receita Federal nega que tenha havido briga entre seus servidores, a ponto de
suspender conversas sobre as eleições presidenciais no ambiente de trabalho,
como revelou ontem a coluna, que mantém as informações.
Autor/Vicente
Júnior-Jornalista há 26 anos, dos quais 12 no Correio Braziliense. Já passou
por O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Postador: Manancial de Carajás