Condenado por morte de Dorothy espera anulação de julgamento.
Condenado sob acusação de ser um dos mandantes do assassinato da
missionária norte-americana Dorothy Stang, em 2005, o fazendeiro
Vitalmiro Bastos de Moura, 42, afirma que as provas contra ele foram
"forjadas".
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O fazendeiro Bida, condenado por ser o mandante
do assassinato da missionária Dorothy Stang
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Ele diz
esperar que o STF (Supremo Tribunal Federal) anule seu julgamento.Bida, como é
conhecido, era dono de um lote de terra em Anapu (766 km de Belém) visado
por Dorothy para a criação de um assentamento. Hoje ele cumpre pena em regime
semiaberto.
O caso voltou à tona depois que seu advogado,
Arnaldo Lopes, conseguiu que a Justiça do Pará ouvisse uma nova testemunha, o
policial federal Fernando Raiol, que participou das investigações.
Raiol disse que Bida é inocente e que a arma do
crime foi fornecida pelo então delegado de Polícia Civil de Anapu, Marcelo Luz,
fato novo na história.
O delegado não quis comentar. O depoimento foi anexado a
um habeas corpus no STF, que tenta anular a condenação dele. Leia trechos da
entrevista.
Folha -
Espera que o depoimento reverta a condenação?
Bida - Estou acreditando na Justiça de Brasília, porque
eu já vi tanta coisa acontecendo nesse processo para me prejudicar que não dá
pra acreditar na Justiça daqui [do Pará]. Eu fui absolvido, aí recorreram e me
condenaram depois, sem fundamentos.
A prova que tem é uma delação premiada.
Primeiro forjaram um documento contra mim. Quando perceberam que não tinha
fundamento, deram delação premiada [de Amair Feijoli, o Tato, condenado como
intermediário entre executores e mandantes].
Forjaram como? Eu me entreguei à Polícia Federal [em 2005] e até
aí não tinha acusação contra mim. Fui prestar depoimento à Justiça e os
promotores Sávio Brabo e Lauro Freitas apareceram com uma prova e disseram:
"Não adianta negar. Tem um bilhete da irmã Dorothy dizendo que, se ela
morresse, era você que tinha mandado matar".
Eu até gelei na hora. Quando o doutor Américo
[Leal, advogado] olhou, era um bilhete de 2001 forjado, porque eu só fui morar
em Anapu em 2003. Aí tiraram isso do processo e ficaram sem prova, iam ter que
me soltar. Correram pro Tato e fizeram proposta de delação premiada pra ele
dizer que eu e Regivaldo [Galvão, o Taradão] tínhamos mandado [matar Dorothy],
que cada um ia dar R$ 25 mil. [O promotor Sávio Brabo diz que não houve o
bilhete.]
Não houve essa oferta de R$ 50 mil para matar
Dorothy?
Ninguém
nunca falou nisso. A partir da delação eles arrumaram a prova de me condenar,
não tem outra. É diz-que-me-diz. Tato depois falou que, para não morrer na
cadeia, teve que tentar isso [delação premiada].
Nessa
época o senhor ouviu a acusação de que a arma foi dada por Marcelo Luz
[delegado de
Polícia Civil de Anapu]?
Não. Marcelo Luz mandou Tato me
chamar para conversar com ele. Chegando lá, o delegado falou: "Todos os
fazendeiros estão me dando R$ 10 mil. Quando o pessoal da irmã Dorothy invade,
eu tiro". Eu falei para ele que já tinha ouvido falar dessas invasões, por
isso entrei na Justiça e consegui uma liminar de reintegração de posse, aí não
precisava pagar.
Essa conversa com ele foi em 2005 mesmo?
Foi. Poucos dias depois acontece
a morte da irmã Dorothy. Eu cheguei em Anapu no dia 11 e fui para a minha
fazenda no dia 12, soube à tarde que ela tinha morrido. Um dia depois o
delegado já pediu a minha prisão preventiva. Por quê? Fui o único que não deu
os R$ 10 mil a ele.
Chegou a
conhecer Dorothy? Nunca vi,
rapaz, não tive nem o prazer de conhecer.
Te
preocupava poder perder a fazenda para Dorothy? Como é que me preocuparia se eu
tinha a liminar? Quem quiser entrar, entra, mas a polícia vai tirar. A juíza me
concede uma liminar e eu vou matar a pessoa?
Postador:
Manancial de Carajás