ARTIGO
Levy ameaça se demitir, Dilma corre e envia projeto de lei com parte
do conteúdo da MP devolvida
Por Reinaldo Azevedo
|
Reinaldo Azevedo faz análises políticas sendo
um dos blogs mais acessados do Brasil
|
Nunca,
mas nunca mesmo!, incluindo o governo Collor, se viu tamanha incompetência na
coordenação política do governo. Acreditem ou não, o Palácio do Planalto foi
surpreendido com a decisão de Renan Calheiros de devolver a MP da reoneação da
folha de pagamentos, embora ele próprio já tivesse dito há alguns dias que a
parceria com o PT era capenga e já houvesse faltado, na segunda, a um jantar
oferecido por Dilma a peemedebistas. O clima de barata-voa se instalou, e
chegou à presidente o recado de Joaquim Levy: sem o ajuste fiscal, ele está
fora do cargo. Vocês entenderam direito: na prática, o ministro da Fazenda se
demitiu.
Dilma,
então, imediatamente enviou um projeto de lei, com pedido de urgência,
repetindo parte do conteúdo da MP, concentrando-se apenas no que chamo de
reoneração. Vai passar pelo Congresso? O mar não anda para peixe. Como
justificar a oneração da folha com desemprego crescente e com uma recessão que
já não é mais uma possibilidade, mas um fato? Eis o busílis. Será que os
senhores parlamentares estão dispostos a assumir esse ônus?
O
governo faz um voo cego. Por incrível que pareça, no jantar do dia 23, no
Palácio do Jaburu, da equipe econômica com líderes peemedebistas, o
vice-presidente da República e sete ministros do partido, ninguém tocou no
assunto. O petista Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, estava presente.
Cabe a pergunta: que diabo de coordenação política é essa?
Eis
o ponto: não existe! Um país com crescimento de 5%, inflação de 2,5%, os juros
de 4% e Petrobras como exemplo de eficiência não poderia ter no comando
político o seguinte Quarteto Fantástico: Mercadante, Pepe Vargas, Jaques Wagner
e Miguel Rossetto. Dilma brinca com o perigo. Até eu acho que se encontra coisa
melhor no próprio petismo.
Mas
a presidente não tem uma virtude que, admito, Lula tem: ele costuma se cercar
de pessoas mais capazes do que ele próprio. Podemos não gostar, mas isso é
fato. Dilma, ao contrário, faz questão de exercer também a liderança
intelectual. E, nesse caso, amigos, a coisa pode ser mesmo explosiva.
O
governo não via a hora de Janot entregar a sua lista. Contava com ela para amenizar
o peso sobre os ombros da presidente. Em vez disso, ela está com uma crise nova
nas mãos.
Material extraído do Siute da Revista Veja. Postador: Manancial de Carajás