ENTREVISTA DE DUDA À REVISTA VEJA
MENSALÃO - Duda Mendonça, em entrevista: "Acho que por ter falado a verdade é que fui absolvido. Não escondi nada"
SEGREDOS -- Com medo de morrer, Duda gravou um depoimento sobre tudo o que viveu nos últimos anos (Foto: Cristiano Mariz)
Entrevista concedida a Rodrigo Rangel, publicada na edição impressa de VEJA
HORA DE RECOMEÇAR
O publicitário Duda Mendonça admite que estava preparado para o pior.
Ele recebeu do empresário Marcos Valério o pagamento pelos serviços
prestados à campanha de Lula. Parte do dinheiro foi depositada em um
paraíso fiscal do Caribe, o que o próprio publicitário confessou no auge
do escândalo.
Sete anos depois, a maioria dos ministros do Supremo entendeu que
ele, além de desconhecer que o dinheiro tinha origem ilícita, não
infringiu a lei ao receber o pagamento no exterior. Duda assistiu a sua
absolvição pela TV. A cada voto favorável, acendia uma vela. “Meus
santos são fortes”, diz, segurando os cinco patuás que carrega no
pescoço (as imagens nas medalhinhas vão de Oxóssi, seu orixá, a Nossa
Senhora).
Duda foi a missas e encomendou rezas em terreiros de candomblé. O
suspense lhe afetou a saúde, e ele se submeteu a uma cirurgia no coração
em 2006: “Quase morri”. Antes de ir para o centro cirúrgico, Duda ligou
um gravador e, sozinho no quarto do hospital, registrou vários segredos
de sua vida.
Sobre o que falou, ele não diz. “A gravação está guardada num cofre.”
O senhor esperava a absolvição?
Apesar de meus advogados sempre terem acreditado que eu seria
absolvido, eles vinham me prevenindo de que, pela complexidade do
julgamento, seria impossível antecipar o resultado. Um julgamento sempre
gera apreensão.
Acendi velas. Rezei muito. Minha mulher, Aline, rezava e chorava sem
parar. Ela, meus filhos e netos sofreram muito e tinham medo de que eu
fosse condenado.
Como foi aguardar o veredicto por sete anos?
Não tenho nenhum inimigo, pelo menos que eu saiba, e, mesmo se
tivesse, jamais desejaria a ele passar pelo que passei. Minha vida virou
uma grande noite povoada por pesadelos que pareciam não ter fim. Sete
filhos, sete netos, uma mulher, dezenas de amigos e parentes mais
chegados faziam de tudo para esconder seu medo e sua agonia de mim,
procurando me animar.
Era isso que mais me doía. Como explicar a crianças de 5, 6 anos as
brincadeiras dos coleguinhas na escola chamando seu avô de mensaleiro?
Tinha a consciência tranquila de não ter nada a ver com o mensalão.
O senhor se arrepende de ter contado à CPI que recebeu de
Marcos Valério, no exterior, o pagamento pelos serviços prestados à
campanha de Lula?
Meu credor era o PT, de quem fui cobrar. Não recebi 1 real que não
fosse devido pelo meu trabalho. Isso tudo já pertence ao passado.
Como já disse anteriormente, se cometi um erro, paguei por isso e
aprendi a lição. Mas, em respeito ao Supremo, e por orientação de meus
advogados, não falo sobre os fatos que foram objeto do julgamento.
O que levou o senhor a fazer aquela revelação na CPI?
Desde o primeiro momento, resolvi falar a verdade e assumir o ônus.
Também porque não queria ser acusado por algo que eu não fiz.
O senhor sofreu pressão para não falar à CPI?
Absolutamente nenhuma, de ninguém.
Suas revelações à CPI estremeceram a relação com Lula e o PT?
Nunca fui unanimidade no partido. Acho que deve ter gente que não
gostou. Mas os que tinham uma boa relação comigo continuaram tendo.
Continuo tendo a admiração que sempre tive pelo presidente Lula, mas houve um afastamento natural entre nós.
Sua confissão à CPI forneceu evidências suficientes para
abrir um processo de impeachment do presidente. O senhor tinha
consciência da gravidade de suas revelações?
Lógico que não. Isso nunca passou pela minha cabeça. Não faria
sentido eu querer prejudicar um presidente que ajudei a eleger e por
quem sempre tive e continuo a ter tanta admiração.
Em
depoimento na CPI dos Correios: "Ouvi de muita gente que fui um idiota
por ter falado a verdade. Mas, por outro lado, acho que foi por ter
falado a verdade que fui absolvido" (Foto: J. Freitas)
Como os marqueteiros vão receber pelas campanhas eleitorais, agora que o STF decidiu que caixa dois é crime?
Não tenho conhecimento técnico para fazer essa avaliação, mas é importante que existam regras claras. O Brasil precisa disso.
Valeu a pena falar a verdade?
Ouvi de muita gente que fui um idiota por ter falado a verdade. Mas,
por outro lado, acho que foi por ter falado a verdade que fui absolvido.
Não escondi nada.
Se pudesse voltar no tempo, o senhor aceitaria de novo receber o pagamento no exterior?
Jamais.
Se computar os prejuízos às minhas empresas e à minha imagem, gastei mais do que recebi.
O sofrimento e a cirurgia no coração não têm preço. Foram colocadas duas pontes de safena e duas mamárias.
Quais foram os prejuízos nos negócios?
A minha empresa de marketing político estava no auge. Depois daquilo,
começou a dar para trás. Poucos tinham a coragem de me contratar. Só
queriam conselhos, consultorias reservadas.
Quero agora esquecer o passado. A verdade é que fui absolvido, mas já paguei a minha pena por antecipação.
O que o marqueteiro Duda Mendonça faria para recuperar a imagem de Duda Mendonça?
O tempo é o senhor de todos os males. Marketing não é mágica. A
Justiça me absolveu. A imprensa está me dando espaço para contar a minha
história. Depois disso, é fazer o boca a boca. É coragem para
recomeçar.
Foto e Fonte: Revista Veja. Postador: Manancial de Carajás