Pastor
acusado de racismo é eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos
Indicação
do deputado Marcos Feliciano (PSC-SP) não caiu no agrado de parte da população
Moraes Filho da redação do Manancial de Carajás,
com informações da Folha de São Paulo
O deputado
Marco Feliciano (PSC-SP) foi eleito na manhã desta quinta-feira (7) presidente
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara com 11 votos dos 18
possíveis. Com quórum de 12 votantes, apenas um deputado votou em branco.
“Eu poderia
fazer um milhão de insinuações, mas não vou fazer. O trabalho que faremos aqui
na comissão vai mostrar isso”, disse Feliciano ao ser empossado.
A indicação de
Feliciano é atribuída a uma articulação do líder do PMDB na Câmara, Eduardo
Cunha (RJ), integrante da bancada evangélica, e a um acordo de bancadas da Casa
–que decidiram dar ao partido dele a presidência da comissão.
Na avaliação
da cúpula petista na Casa, não é prevista para este ano a tramitação de
projetos prioritários na comissão. Com vistas a 2014, a interpretação é que o
custo político de endossar matérias polêmicas seria muito grande.
Representantes
de PT, PSOL e PSB deixaram a reunião antes mesmo de a votação ser convocada.
Pouco mais de uma hora depois de iniciada a sessão, o deputado Domingos Dutra
(PT-MA), agora ex-presidente da comissão, renunciou ao cargo e abandonou a
reunião.
Quem assumiu a
comissão e conduziu a eleição foi o deputado João Campos (PSDB-GO), líder da
frente parlamentar evangélica. Diante de uma bancada majoritariamente
evangélica, agradeceu a Deus por terem chegado a um “bom termo”. “Agradeço a
oportunidade de participar de uma ocasião de importância democrática”, disse.
Foi eleita
também à vice-presidência da comissão a deputada Antônia Lúcia (PSC -AC),
também integrante da bancada evangélica.
BATE-BOCA
Candidato
único, Feliciano enfrenta a resistência de grupos de defesa de minorias -que o
consideram “racista” e “homofóbico”.
Em 2011,
Feliciano declarou que os “africanos descendem de ancestral amaldiçoado por
Noé”. Depois, disse que foi mal compreendido: “Minha família tem matriz
africana, não sou racista”.
O pastor diz
que não é homofóbico, mas afirma ser contra o ato sexual entre pessoas do mesmo
sexo.
Durante a
sessão de hoje, foi restrito o acesso de manifestantes ao plenário da comissão.
Corredores da Câmara foram fechados e apenas assessores e a imprensa tiveram
acesso ao local.
Mesmo assim,
houve tumulto. Diante de gritos de “homofóbico”, o deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ) gritou “vão para o zoológico” e classificou os manifestantes de
“baderneiros”.
Em plenário, a
troca de acusações também levou a momentos de tensão entre os parlamentares. O
deputado Takayama (PSC-PR) disse que quem tentava impedir a votação em
Feliciano era “cristofóbico”. “Amamos o pecador, não amamos a prática das
coisas erradas. Por exemplo, se um indivíduo quiser amar a vaca dele…”, disse.
O deputado
Jean Wyllys retrucou: “Nós amamos os cristãos, mas detestamos a exploração
comercial da fé”.
Dutra, por sua
vez, apontando o dedo aos presentes, disse que a comissão virou uma “farsa” e
uma “ditadura”. “A comissão é dos ciganos, das lésbicas, das prostitutas, dos
evangélicos e dos católicos. Espero que a próxima Mesa compreenda que a
comissão não é partidária.”
O presidente
eleito disse, no entanto, não acreditar que eventos como esse possam se repetir
ao longo do ano. “O trabalho que nós vamos executar aqui vai mostrar ao povo
brasileiro.”
REAÇÕES
O deputado
Chico Alencar (PSOL-RJ) articula na Câmara, junto com petistas e socialistas, a
criação da Frente Parlamentar em Defesa da Dignidade Humana e Contra a Violação
de Direitos.
Segundo ele, a
ideia é fazer um contraponto à atuação da Comissão de Direitos Humanos da Casa,
que, segundo sua avaliação, “será uma comissão dos valores religiosos, do
fundamentalismo e da higienização da raça”.
Abaixo-assinado
na internet já reúne mais de 70 mil signatários contra a eleição do deputado.
“O pastor Marcos Feliciano claramente não está alinhado à defesa dos direitos
humanos e sua eleição como presidente da comissão indica a falta de
comprometimento dos parlamentares com essa agenda”, disse Pedro Abramovay,
diretor da Avaaz, organização internacional de ativistas.