Atos contra Marco Feliciano têm apoio de servidores da Câmara
Assessores parlamentares de PT, PV e PSOL participam
regularmente de protestos que atormentam o presidente da Comissão de Direitos
Humanos, deputado Marco Feliciano (PSC-SP).
Moraes Filho da redação do Manancial de Carajás, com informações da Revista Veja.com
Nas
últimas quatro semanas, a presença do deputado Marco Feliciano, do PSC, no comando
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara tem provocado protestos de militantes
do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), insuflados por
parlamentares do PSOL e do PT. Nesta quarta-feira, durante o tumulto que
terminou com uma pessoa detida pela Polícia Legislativa, um detalhe chamou a
atenção: os crachás de funcionários da Câmara – alguns à mostra, outros
escondidos – pendurados no pescoço dos manifestantes. Misturados ao grupo que
tem promovido os protestos, são funcionários de gabinetes da Câmara, pagos com
dinheiro público, em horário de expediente de trabalho.
Algumas
caras são recorrentes nesses atos. Uma delas é Rodrigo Cademartori, conhecido
como Rodrigo "Pilha", assessor da deputada Érica Kokay (PT-DF).
Ligado ao PT, ele saltou direto do movimento estudantil para um confortável
cargo de confiança - primeiramente na Câmara Legislativa do Distrito Federal,
depois na Câmara dos Deputados. Para quebrar a monotonia do serviço público,
ele costuma participar de protestos no horário de expediente. O rapaz, velho
conhecido da segurança da Câmara, foi um dos baderneiros que tentaram calar a
blogueira Yoani Sánchez aos berros, quando a cubana visitou o Congresso em
fevereiro. Rodrigo "Pilha" recebe mensalmente cerca de 4 200 reais.
Tiago
Oliveira, assessor do PV, também resolveu usar o tempo de trabalho para
protestar contra Feliciano. "Hoje não tenho nada na agenda", disse
ele, candidamente, ao site de VEJA nesta quarta-feira. Sem esconder que usa o
horário de trabalho para fazer militância, o assessor até aceita posar para
foto. Ironicamente, o patrão de Tiago, o líder do PV, Sarney Filho (PV-MA),
indicou um pastor evangélico para a comissão: Henrique Afonso (PV-AC), que
ajudou a eleger Feliciano.
Os
comissionados do PSOL são mais discretos: dão suporte aos manifestantes sem
repetir as palavras de ordem gritadas pelos corredores da Câmara. Um deles,
identificado como Alexandre, é assessor da liderança do partido na Câmara. Na
última quarta, ele orientava os manifestantes sobre o melhor roteiro a ser
percorrido dentro do Congresso. Indagado pelo site de VEJA, Alexandre disse
apenas que estava lá para impedir abusos.
Outra
assessora, apontada pelo próprio Alexandre como funcionária do deputado Jean
Wyllys (PSOL-RJ), também auxilia os militantes - alguns deles, filiados ao
PSOL. Também havia representantes do PSTU no movimento contrário a Feliciano. E
nem sempre os representantes dos partidos envolvidos nos protestos se entendem:
na última manifestação, quando uma manifestante ligada ao PSTU lançou críticas
à presidente Dilma Rousseff, Rodrigo Cademartori, ou "Pilha", reagiu
e chamou a jovem de "aparelhista" - seja lá o que isso significar.
O
grupo de parlamentares de siglas de esquerda e militantes dos movimentos LGBT
acusam o pastor de ter dado declarações racistas e homofóbicas. Desde então,
Feliciano tem enfrentado transtornos nos corredores do Congresso, anda
escoltado por seguranças e tem sido impedido de comandar as atividades da
comissão. Ele também virou alvo de ataques nas redes sociais.
Pastor
da Igreja Assembleia de Deus e deputado federal de primeiro mandato, Marco
Feliciano enfrenta a resistência de partidos de esquerda que tradicionalmente
reivindicam o comando da comissão, mas abriram mão do posto neste ano e agora
não aceitam a indicação de um pastor evangélico para a cadeira. No caso do PT,
o partido não pleiteou a presidência do colegiado para ter o direito de chefiar
comissões consideradas mais nobres, como a de Constituição e Justiça (CCJ), que
abriga os mensaleiros José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP), ambos
condenados pela Justiça. Ou seja, pelo acordo fechado previamente entre os
partidos, a presidência da Comissão de Direitos Humanos é cota da bancada do
PSC e cabe ao partido escolher seu representante, o que torna a indicação de
Feliciano legítima.
Violência
Nesta
quarta-feira, depois que Feliciano mudou o local da reunião e manteve os
manifestantes do lado de fora, eles resolveram ir até o gabinete do deputado.
Impedidos por seguranças, que formavam uma barreira em um corredor do anexo 4,
os militantes tomaram a iniciativa; em vantagem numérica, deram empurrões nos
funcionários da Câmara e geraram um grande tumulto. Um jovem foi detido:
Allysson Prata, que é funcionário da Administração Regional de Ceilândia, uma
espécie de subprefeitura mantida pelo governo do petista Agnelo Queiroz no
Distrito Federal.
Prata
é ligado à deputada distrital Luzia de Paula (PEN). Presença constante nos
protestos contra Feliciano, o jovem chegou a ser detido pela Polícia Legislativa
quando tentava invadir o gabinete de Marco Feliciano nesta quarta-feira.
Allysson usa sua página no Facebook para convocar os militantes de esquerda
para os protestos contra o presidente da Comissão de Direitos Humanos. Não se
sabe em que momento ele bate ponto no trabalho.
Não
só os funcionários do Legislativo fogem do trabalho para aderir à militância:
Jandiara Machado é funcionária do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, onde
o expediente ocorre só durante a tarde. Mas, por volta das 15h desta quarta,
ela estava na Câmara dos Deputados para protestar contra Feliciano. E se
justificou: "Depois eu faço reposição de horário". Até agora, os
militantes profissionais não anunciaram nenhum protesto contra funcionários
públicos que se ausentam das funções durante o horário de trabalho.
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