Intransigência x Intransigência = Impasse
Moraes Filho da redação do Manancial de
Carajás, com informações do blog de Parsifal Pontes
Nós,
políticos, dizemos que a imprensa nos vilipendia: é verdade, mas é verdade que
somos os fornecedores de matéria prima para o vilipêndio.
Os
deputados sempre menosprezaram a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDH),
entregando-a a partidos sem muque para se apropriar das “comissões
importantes”.
A
imprensa jamais acompanhou os trabalhos da CDH: só faz plantão nas “comissões
importantes”, preenchidas com os “medalhões” do Parlamento.
> Todos são cúmplices
Com
a eleição, combinada com todos os partidos, de Marco Feliciano (PSC-SP) para
presidência da CDH, o Brasil descobriu que a comissão existe, mas tanto a
intolerância do deputado quanto a intransigência dos manifestantes tornaram-se
o foco e a CDH continua em segundo plano.
Se
o PSC e o deputado Feliciano soubessem para que serve a CDH, aquele não o teria
indicado e esse, mesmo indicado, não teria aceitado.
Os
deputados não labutam pelo conteúdo das comissões, mas pela forma como elas
alavancam o mandato: deter cargos nas comissões propicia propriedade de pautas,
viagens patrocinadas e nomeação de assessores, portanto mais poder estrutural e
pessoal.
> Sem restrições
A
CDH objetiva “contribuir para a afirmação dos direitos humanos”. Entre esses
está a afirmação das minorias e entre as minorias estão os gays.
Se
um deputado tem restrições aos gays ele não está eticamente habilitado a
presidir a CDH e não lhe elide a impossibilidade ética ser ele defensor de
outras minorias, pois se há restrição a uma só delas o caldo está entornado.
Os
líderes partidários aceitaram a pedida do PSC para que esse, composto na sua
maioria por evangélicos, o que não é ilegal e nem ilegítimo, usasse a CDH como
aríete contra a minoria gay, o que é antiético, pois nega um dos objetos do
colegiado.
Questões
de mérito se discutem no plenário. As comissões temáticas devem cumprir os seus
papéis específicos e por isso devem ser presididas por quem se identifica com
os seus temas, sem restrições a nenhum deles.
> O paradoxo de Feliciano
A
intransigência do deputado Feliciano tem um objetivo: consolidar e
potencializar o seu eleitorado. O objetivo está conseguido e ele deveria,
diante do impasse, pedir para sair.
Todavia,
Feliciano é vítima da própria intransigência: avalia que a sua renúncia pode
ser interpretada pelo seu eleitorado como uma fraqueza diante do que deve
defender, portando prefere ser “imolado” a correr do altar.
> Para os políticos, mais desgaste.
Com
isso ele deita massa no caldeirão da opinião pública geral, que tem a mais
lídima certeza de que nós, políticos, só pensamos em cargos e votos e somos
sopa do mesmo caldo.
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