Marcelo Miranda a caminho de um recorde: ser cassado duas vezes do
mesmo cargo
O
governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), pode entrar para a história.
Mas não pela porta da frente. Se uma ação que o Ministério Público Eleitoral
apresentou contra ele na semana passada avançar, ele pode se tornar o primeiro
governador brasileiro a ser cassado duas vezes do cargo. Em 2009, o Tribunal
Superior Eleitoral cassou seu mandato, por unanimidade, porque ele criou
milhares de cargos e nomeou funcionários para conseguir votos. Além disso, doou
mais de 5 000 lotes e 81 000 óculos para pessoas carentes, com o mesmíssimo
objetivo. A punição, no entanto, parece não ter surtido efeito. Desta vez, ele
é acusado de captar e gastar de maneira ilegal recursos para sua campanha e
abuso de poder político. A pena, se for condenado, é a mesma, a cassação.
Em
18 de setembro do ano passado, duas semanas antes do primeiro turno da eleição,
cinco pessoas foram presas num avião em Piracanjuba, no estado de Goiás, com
500 000 reais em dinheiro. O objetivo da operação era combater o tráfico de
drogas, mas os policiais acabaram encontrando, segundo o procurador eleitoral
George Lodder, dinheiro “com o fito de fomentar caixa 2 destinado aos, à época,
candidatos ao governo do Estado do Tocantins Marcelo de Carvalho Miranda e
Cláudia Telles de Menezes Pires Martins Lelis (sua vice na chapa), bem como 3,6
quilos de santinhos referentes a Carlos Henrique Amorim (Gaguim), aspirante ao
cargo de deputado federal”.
Segundo
o procurador, um homem que foi preso quando o dinheiro foi apreendido, Douglas
Alencar Schimitt, disse trabalhar para o político. Schimitt alegou que era “um
dos responsáveis pela campanha de Marcelo Miranda, e como o referido político
está com as contas bancárias bloqueadas, ficou responsável por encontrar
laranjas que pudessem emprestar contas para depósitos e saques de grandes
quantias de dinheiro que seriam utilizadas na campanha”.
Depois,
o homem negou as declarações e disse integrar um grupo político adversário, mas
a mudança na versão não convenceu o Ministério Público, até porque há outros
indícios que ligam o dinheiro a Miranda: no dia da apreensão, o piloto do
avião, Roberto Carlos Barbosa, ligou sete vezes para Cleanto Carlos de
Oliveira, coordenador de voos da campanha do PMDB. Ao ser preso, Schimitt
também fez a sua primeira ligação telefônica para a mesma pessoa, Cleanto.
Se
o enredo depois da apreensão liga o dinheiro ao governador, o que aconteceu
antes dela só completa o quadro. Três dias antes da apreensão, o irmão do
governador, José Miranda Junior, havia enviado uma mensagem de texto para um
dos detidos, Marco Antonio Roriz, com o número e o nome de Douglas Schimitt. Na
resposta: “Acertei com Douglas ok!”. No dia seguinte, segundo a Procuradoria
Eleitoral, Roriz levou Schimitt à Consult Factoring — uma empresa criada meses
antes, em nome de dois jovens de 19 anos — para recolher doze cheques que
totalizavam mais de 1,5 milhão de reais. Um dia antes da detenção, Roriz avisa
ao irmão do governador: “Saindo Piracanjuba ok!”. Piracanjuba, a mesma cidade
onde no dia seguinte o avião com 500 000 reais foi apreendido.
Para
o Ministério Público, tudo isso indica que “promoveu-se ampla circulação de
capitais, como forma de esconder a sua origem e que se destinava à campanha de
Marcelo de Carvalho Miranda”. Se a Justiça concordar, Miranda se tornará o
primeiro governador a ser cassado duas vezes. Um recorde pouco louvável.
Com informações da Revista Veja
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