Primeiro bloco foi
tomado por questões propositivas; corrupção veio à tona nas referências ao
escândalo da Petrobras
Debate
da TV Record entre os candidatos Aécio Neves e a presidente Dilma Rousseff -
Michel Filho / Agência O Globo
|
RIO
— Em tom mais ameno do que no último confronto e sem ataques pessoais, os
presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PMDB) se enfrentaram neste
domingo pela terceira vez no segundo turno, desta vez no debate da Rede Record.
O primeiro bloco, com oito perguntas direitas, foi tomado por questões
propositivas. A corrupção só veio à tona na referência ao escândalo da Petrobras.
Aécio trouxe para a pauta o reconhecimento de Dilma, feito na véspera, de que
houve, de fato, desvios na estatal. O tucano cobrou da presidente uma posição
em relação ao tesoureiro do PT José Vaccari, que é também conselheiro de
Itaipu. Perguntou três vezes à presidente se ela não o puniria, visto que ele
fora citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, nos depoimentos
prestados depois do benefício da delação premiada. Aécio deu a entender que
Vaccari já ocupava o cargo quando Dilma era ministra das Minas e Energia.
—
Cobrei nestes últimos debates uma posição em relação à Petrobras e não obtive.
Quero fazer um reconhecimento de público: ontem a senhora reconheceu que houve
desvios. Quando apresentamos a proposta da CPI, fomos tachados de aproveitadores
eleitorais. A senhora confia no seu tesoureiro, João Vaccari Neto, que é
conselheiro de Itaipu? A senhora confia nele? — perguntou Aécio.
Dilma
devolveu a pergunta, com outra, deixando clara uma estratégia de associar o
escândalo também a aliados de Aécio:
—
O senhor confia em todos aqueles que, segundo as mesmas fontes que acusam
Vaccari, dizem que o ex-presidente do seu partido, lamentavelmente morto,
recebeu recursos para acabar com a CPI? — disse Dilma, citando a referência
feita por Paulo Roberto Costa ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra — Porque,
da última vez que um delator denunciou pessoas do seu partido, no caso do metrô
e dos trens, o senhor disse que não ia confiar na palavra de delator.
Dilma,
então, disse que sabe que “há indícios de desvio de dinheiro” na Petrobras, e
que deveria ser cumprimentada porque disse que ela iria investigar assim que o
Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgasse informações e
punissem os que cometeram delitos. Ela voltou a lembrar casos de corrupção nos
governos tucanos:
—
No caso específico do seu governo (as gestões tucanas), não podem responder
onde estão os corruptos da pasta rosa, da compra de votos para a reeleição, do
processo Sivam, dos trens e metrôs. Todos inteiramente soltos. Eu sou a favor
da punição, doa a quem doer. E sou contra engavetamentos como foram feitos.
Ao
comentar as declarações da petista, Aécio disse que teria havido “um recuo'” de
Dilma em relação à declaração dada na véspera, de que houve desvios na estatal.
Lembrou ainda que o delator citou o nome da senadora Gleisi Hoffman,
ex-mininstra chefe da Casa Civil e seu marido, Paulo Bernardo, ministro das
Comunicações. E defendeu a profissionalização da Petrobras.
—
A senhora não acha mais que houve desvio, mas indícios de desvios — disse o
tucano, voltando a perguntar se ela confiava no tesoureiro Vaccari, e a lembrar
da presença dele no conselho de Itaipu. — Na Petrobras, onde ele (Vaccari) não
tinha acesso formal, dois terços (da propina) eram para ele. E em Itaipu, onde
ele tem um crachá, assina documentos? Por que nestes anos todos não se tomou
nenhuma providência? (A corrupção) Está acontecendo também em outras empresas?
Governança foi o que faltou na Petrobras.
Ao
ouvir de Dilma que foi o governo petista que investigou, Aécio reagiu:
—
As instituições é que investigam. Que triste é o país em que o presidente manda
investigar. Isso pode funcionar em algumas ditaduras amigas do seu governo —
disse Aécio.
No
segundo bloco, os candidatos voltaram a falar sobre a Petrobras, sem citar a
corrupção, mas sobre a gestão da estatal. Aécio lembrou que, em 2010, o governo
federal fez “uma grande campanha” para que o trabalhador brasileiro investisse
seu fundo de garantia em ações da estatal.
—
Candidata, quem investiu R$ 1000, agora no fim deste governo tem apenas R$ 600.
Será que é justo que tirem dele algo tão valioso? — questionou o tucano.
A
petista rebateu afirmando que o governo de FH vendeu as ações da estatal a
“preço de banana”:
—
Vocês venderam 30% da Petrobras no mercado de ações a preço de banana. Na
época, a Petrobras valia R$ 15, 5 bilhões, hoje passou do patamar de R$ 100
bilhões. Vocês não tem a menor moral para falar de valor da Petrobras — rebateu
Dilma, que concluiu: — Isso significa que de valor, você pode ficar descansado.
Todos que investiram na Petrobras vão ganhar muito dinheiro. Vocês diziam que
nós não teríamos capacidade de explorar o pré-sal. Ora, candidato, o pré-sal
está explorando 500 mil barris por dia, e é algo que o Brasil levou 30 anos
para extrair, agora extrai em menos de oito anos.
Ao
defender o Bolsa Família, Dilma se referiu aos projetos sociais da gestão
Fernando Henrique como “o seu Bolsa Família”. E, ao comparar com o programa em
sua gestão, chamou de “meu Bolsa Família”.
—
Não faça isso com os brasileiros. O seu Bolsa Família? Não é seu — retrucou o
tucano, citando o “terrorismo eleitoral’’ que a campanha adversária estaria
fazendo ao afirmar que ele, caso eleito, acabaria com o Bolsa Família. — (O Bolsa
Família) É do povo brasileiro. É uma marca perversa do PT achar que os
programas sociais lhe pertencem — disse Aécio.
A
despeito do embate em torno da Petrobras, o debate não se aproximou de questões
pessoais. Mais suave, vestida de branco e batom roxo, Dilma foi a primeira a
perguntar, sobre o microempreendedor individual. Quis saber de Aécio se ele se
comprometeria com a continuação do Simples, que beneficia os empreendedores de
pequeno porte. Na resposta, o tucano afirmou que a posição é “a mesma tive
tivemos quando criamos o imposto, no governo Fernando Henrique”.
—
A minha preocupação, candidata, é que estamos tendo um decréscimo na geração
desse emprego — disse Aécio.
Dilma
afirmou que universalizou o Simples. O clima estava tão ameno que Aécio chegou
a agradecer a qualidade da sua primeira pergunta. E afirmou que não é
necessário brigar pela paternidade dos projetos. Em seguida, pontuou que o
crescimento do país será “praticamente nulo”, de 0,3%. A partir daí, os
candidatos começaram a debater a veracidade dos dados que cada um apresentava,
ora sobre o crescimento, ora sobre a segurança pública.
—
Não sei porque o senhor é tão pessimista em relação ao crescimento do país. E
melhor o senhor rever suas contas. O senhor também está errando em outra conta,
nas contas da segurança. Gasto R$ 4,4 bilhões ao ano. O governo Fernando
Henrique gastou R$ 1,2 bilhão ao ano. Deve ter de fato mães chorando em Minas.
A
gestão do tucano em Minas foi usada por Dilma para tentar atacar o tucano. Que reagiu,
dizendo que concorria à Presidência, que interessava discutir questões
nacionais. Dilma afirmou que, no Mapa da Violência, o Sudeste registrou queda
de 37% nos homicídios. Enquanto em Minas, houve um aumento de 52%. Aos
questionamentos sobre sua atuação como governador, Aécio afirmou que “gostaria
de repetir no país o que fez em Minas”. O tucano também afirmou que o
crescimento do país é um dos “mais baixos” dos últimos governos. A petista
rebateu a afirmação:
—
O senhor é muito pessimista. Não acredito que o país vá crescer somente 0,3%
este ano. O senhor precisa refazer esses gastos — afirmou a candidata, que
citou dados sobre o Mapa da Violência do estado de Minas quando Aécio era
governador do estado: — Dos 853 municípios do estado, apenas 443 possuem
delegacias. Isso significa um incentivo ao crime, incentivo a impunidade dos
agressores e dos homicidas. Acredito que é muito grave que 56% dos homicídios
seja entre jovens de até 29 anos.
Postador: Manancial de Carajás
Nenhum comentário:
Postar um comentário