domingo, 19 de outubro de 2014

DEBATE NA RECORD

Dilma e Aécio minimizam ataques pessoais, e citam corrupção, segurança pública e inflação

Primeiro bloco foi tomado por questões propositivas; corrupção veio à tona nas referências ao escândalo da Petrobras

Debate da TV Record entre os candidatos Aécio Neves e a presidente Dilma Rousseff - Michel Filho / Agência O Globo
RIO — Em tom mais ameno do que no último confronto e sem ataques pessoais, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PMDB) se enfrentaram neste domingo pela terceira vez no segundo turno, desta vez no debate da Rede Record. O primeiro bloco, com oito perguntas direitas, foi tomado por questões propositivas. A corrupção só veio à tona na referência ao escândalo da Petrobras. Aécio trouxe para a pauta o reconhecimento de Dilma, feito na véspera, de que houve, de fato, desvios na estatal. O tucano cobrou da presidente uma posição em relação ao tesoureiro do PT José Vaccari, que é também conselheiro de Itaipu. Perguntou três vezes à presidente se ela não o puniria, visto que ele fora citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, nos depoimentos prestados depois do benefício da delação premiada. Aécio deu a entender que Vaccari já ocupava o cargo quando Dilma era ministra das Minas e Energia.

— Cobrei nestes últimos debates uma posição em relação à Petrobras e não obtive. Quero fazer um reconhecimento de público: ontem a senhora reconheceu que houve desvios. Quando apresentamos a proposta da CPI, fomos tachados de aproveitadores eleitorais. A senhora confia no seu tesoureiro, João Vaccari Neto, que é conselheiro de Itaipu? A senhora confia nele? — perguntou Aécio.

Dilma devolveu a pergunta, com outra, deixando clara uma estratégia de associar o escândalo também a aliados de Aécio:

— O senhor confia em todos aqueles que, segundo as mesmas fontes que acusam Vaccari, dizem que o ex-presidente do seu partido, lamentavelmente morto, recebeu recursos para acabar com a CPI? — disse Dilma, citando a referência feita por Paulo Roberto Costa ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra — Porque, da última vez que um delator denunciou pessoas do seu partido, no caso do metrô e dos trens, o senhor disse que não ia confiar na palavra de delator.

Dilma, então, disse que sabe que “há indícios de desvio de dinheiro” na Petrobras, e que deveria ser cumprimentada porque disse que ela iria investigar assim que o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgasse informações e punissem os que cometeram delitos. Ela voltou a lembrar casos de corrupção nos governos tucanos:

— No caso específico do seu governo (as gestões tucanas), não podem responder onde estão os corruptos da pasta rosa, da compra de votos para a reeleição, do processo Sivam, dos trens e metrôs. Todos inteiramente soltos. Eu sou a favor da punição, doa a quem doer. E sou contra engavetamentos como foram feitos.

Ao comentar as declarações da petista, Aécio disse que teria havido “um recuo'” de Dilma em relação à declaração dada na véspera, de que houve desvios na estatal. Lembrou ainda que o delator citou o nome da senadora Gleisi Hoffman, ex-mininstra chefe da Casa Civil e seu marido, Paulo Bernardo, ministro das Comunicações. E defendeu a profissionalização da Petrobras.

— A senhora não acha mais que houve desvio, mas indícios de desvios — disse o tucano, voltando a perguntar se ela confiava no tesoureiro Vaccari, e a lembrar da presença dele no conselho de Itaipu. — Na Petrobras, onde ele (Vaccari) não tinha acesso formal, dois terços (da propina) eram para ele. E em Itaipu, onde ele tem um crachá, assina documentos? Por que nestes anos todos não se tomou nenhuma providência? (A corrupção) Está acontecendo também em outras empresas? Governança foi o que faltou na Petrobras.

Ao ouvir de Dilma que foi o governo petista que investigou, Aécio reagiu:

— As instituições é que investigam. Que triste é o país em que o presidente manda investigar. Isso pode funcionar em algumas ditaduras amigas do seu governo — disse Aécio.

No segundo bloco, os candidatos voltaram a falar sobre a Petrobras, sem citar a corrupção, mas sobre a gestão da estatal. Aécio lembrou que, em 2010, o governo federal fez “uma grande campanha” para que o trabalhador brasileiro investisse seu fundo de garantia em ações da estatal.

— Candidata, quem investiu R$ 1000, agora no fim deste governo tem apenas R$ 600. Será que é justo que tirem dele algo tão valioso? — questionou o tucano.

A petista rebateu afirmando que o governo de FH vendeu as ações da estatal a “preço de banana”:

— Vocês venderam 30% da Petrobras no mercado de ações a preço de banana. Na época, a Petrobras valia R$ 15, 5 bilhões, hoje passou do patamar de R$ 100 bilhões. Vocês não tem a menor moral para falar de valor da Petrobras — rebateu Dilma, que concluiu: — Isso significa que de valor, você pode ficar descansado. Todos que investiram na Petrobras vão ganhar muito dinheiro. Vocês diziam que nós não teríamos capacidade de explorar o pré-sal. Ora, candidato, o pré-sal está explorando 500 mil barris por dia, e é algo que o Brasil levou 30 anos para extrair, agora extrai em menos de oito anos.

Ao defender o Bolsa Família, Dilma se referiu aos projetos sociais da gestão Fernando Henrique como “o seu Bolsa Família”. E, ao comparar com o programa em sua gestão, chamou de “meu Bolsa Família”.

— Não faça isso com os brasileiros. O seu Bolsa Família? Não é seu — retrucou o tucano, citando o “terrorismo eleitoral’’ que a campanha adversária estaria fazendo ao afirmar que ele, caso eleito, acabaria com o Bolsa Família. — (O Bolsa Família) É do povo brasileiro. É uma marca perversa do PT achar que os programas sociais lhe pertencem — disse Aécio.

A despeito do embate em torno da Petrobras, o debate não se aproximou de questões pessoais. Mais suave, vestida de branco e batom roxo, Dilma foi a primeira a perguntar, sobre o microempreendedor individual. Quis saber de Aécio se ele se comprometeria com a continuação do Simples, que beneficia os empreendedores de pequeno porte. Na resposta, o tucano afirmou que a posição é “a mesma tive tivemos quando criamos o imposto, no governo Fernando Henrique”.

— A minha preocupação, candidata, é que estamos tendo um decréscimo na geração desse emprego — disse Aécio.

Dilma afirmou que universalizou o Simples. O clima estava tão ameno que Aécio chegou a agradecer a qualidade da sua primeira pergunta. E afirmou que não é necessário brigar pela paternidade dos projetos. Em seguida, pontuou que o crescimento do país será “praticamente nulo”, de 0,3%. A partir daí, os candidatos começaram a debater a veracidade dos dados que cada um apresentava, ora sobre o crescimento, ora sobre a segurança pública.

— Não sei porque o senhor é tão pessimista em relação ao crescimento do país. E melhor o senhor rever suas contas. O senhor também está errando em outra conta, nas contas da segurança. Gasto R$ 4,4 bilhões ao ano. O governo Fernando Henrique gastou R$ 1,2 bilhão ao ano. Deve ter de fato mães chorando em Minas.

A gestão do tucano em Minas foi usada por Dilma para tentar atacar o tucano. Que reagiu, dizendo que concorria à Presidência, que interessava discutir questões nacionais. Dilma afirmou que, no Mapa da Violência, o Sudeste registrou queda de 37% nos homicídios. Enquanto em Minas, houve um aumento de 52%. Aos questionamentos sobre sua atuação como governador, Aécio afirmou que “gostaria de repetir no país o que fez em Minas”. O tucano também afirmou que o crescimento do país é um dos “mais baixos” dos últimos governos. A petista rebateu a afirmação:

— O senhor é muito pessimista. Não acredito que o país vá crescer somente 0,3% este ano. O senhor precisa refazer esses gastos — afirmou a candidata, que citou dados sobre o Mapa da Violência do estado de Minas quando Aécio era governador do estado: — Dos 853 municípios do estado, apenas 443 possuem delegacias. Isso significa um incentivo ao crime, incentivo a impunidade dos agressores e dos homicidas. Acredito que é muito grave que 56% dos homicídios seja entre jovens de até 29 anos.

Postador: Manancial de Carajás

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