Na base do berro, da intimidação e da violência. Mas tudo em nome do
bem! Ou: Os 13 mil votos de Jean Wyllys valem mais do que os 212 mil de
Feliciano?
Já
explico o que ela faz aí. Antes, algumas considerações.
Moraes Filho da redação do Manancial de
Carajás/ Veja.com/ Blog Reinaldo Azevedo
O
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), resolveu pegar carona
no processo de demonização do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) — que só está
na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias por obra do PMDB e do
PT — e lhe deu e a seu partido uma espécie de ultimato: tem de renunciar ao
posto. Não há forma legal de tirar o deputado de lá. O PSC é que está sendo
pressionado. Certamente o partido é alvo de ameaças de retaliação. Feliciano
diz que não sai. Tendo a achar que será muito difícil resistir.
Também
a ministra Luíza Bairros, da Secretaria
de Política de Promoção Social da Igualdade Racial, disse no programa “Bom dia,
ministro”, que o PSC deve reavaliar a indicação: “Toda mobilização em torno da
manutenção [de Feliciano no comando da comissão] coloca na mão do PSC uma
decisão que é de reavaliar se é coerente com o histórico de direitos humanos no
Brasil manter uma pessoa com as convicções do deputado na presidência de uma
comissão tão importante”.
Certo!
Luíza Bairros é aquela senhora que foi flagrada chegando em carro oficial a um
encontro promovido pelo PT, conforme se vê na foto abaixo.
“O
que uma coisa tem a ver com outra, Reinaldo?” Tudo. Parece que um grupo
político, no Brasil, tem não só o monopólio dos direitos como também o das
ilegalidades. E olhem que estão tentando tirar Feliciano da comissão por delito
de opinião — se a opinião é imbecil ou errada, isso é outra coisa.
O futuro
Não
adianta tentar me patrulhar, acusando-me de apoiar o pastor. É mentira! Aqui
ninguém leva nada no grito, não! Deploro algumas falas de Feliciano e já deixei
isso claro. Apontei até o seu erro numa citação bíblica. Mas o fato é que, no
regime democrático e de direito, não existem monopólios de representação em
comissões do Congresso. Apontem uma só ilegalidade que teria sido cometida na
sua condução ao posto que ocupa. Zero! Nenhuma!
A
imprensa que condescende gostosamente com a bagunça está fazendo uma opção:
substituir uma decisão legal e democrática por uma imposição que se dá por meio
da baderna. É evidente que os grupos descontentes com a permanência de
Feliciano na comissão podem se manifestar, mas não da forma como vêm fazendo
(veja sequência de fotos mais adiante).
Henrique
Eduardo Alves, empenhado em ficar “de bem” com essa imprensa, que não o tem
exatamente na conta de um Varão da República, resolveu pegar carona no
linchamento. Se Feliciano for substituído, como está em vias de acontecer,
estará dado um norte: bastam 30 ou 40 pessoas, profissionais da baderna, para
decidir os rumos de uma comissão.
O
Congresso deixa de ser um Poder de representação e passa a funcionar na base da
“ditadura direta” fantasiada de “democracia direta”, já que esses 30 ou 40
militantes — essa gente já tem a vida ganha? Não precisa trabalhar? — imporão a
sua vontade a quem chegou lá pelo voto popular.
Digam-me
aqui: os 212 mil votos de Feliciano valem menos do que os 13 mil de Jean Wyllys
(PSOL-RJ)? Não! Não estou dizendo que o mais votado tem sempre razão. Fosse
assim, Tiririca seria Schopenhauer. Estou afirmando que é preciso respeitar a
representação popular. Ainda que a sociedade não possa e não deva se conformar
apenas com esse processo formal, sem ele, é fato, não existe democracia digna
desse nome. Partimos para a luta de todos contra todos.
As fotos
A
foto que está lá no alto pertence a uma sequência publicada na Folha Online, de
autoria de André Borges, da Folhapress.
Antes que aquele rapaz de amarelo exibisse aqueles dizeres, ele já havia
se movimentado a valer, nesta quarta, na sala que abriga a comissão, que, mais uma vez, não conseguiu levar adiante a
sessão. Vejam.
Ele
é só o elemento mais buliçoso do grupo que dá as cartas por ali. Ainda que não
tenha sido eleito por ninguém, ainda que, segundo os critérios da democracia,
não represente ninguém, ele se impõe sobre o voto popular, não é? Isso é
evidente. Curioso o Congresso Brasileiro, de tantas e tão conhecidas
maracutaias e sem-vergonhices! A população ignora boa parte dos temas que são
debatidos por ali. São assuntos arcanos para a larga maioria. Uma Comissão de
Direitos Humanos, no entanto, é entregue ao controle das “minorias” porque isso
cria um arremedo de democracia direta.
“Democracia”?
Leiamos os dizeres daquela folha exibida pelo rapaz de amarelo. Lá está escrito
em maiúsculas: “CADÊ A ONU PARA FECHAR O CONGRESSO NACIONAL???” Duvido que ele
tenha muita clareza sore a indagação que faz, mas é inegável que existe ali um
conceito embutido: “Ou o Congresso faz o que nós, que estamos aqui, queremos,
ou ele pode ser fechado”. Outra foto também chama a minha atenção. Vejam.
Embora
a imagem sugira que o rapaz se comporta de modo educado (não estava lá e,
portanto, não posso garantir), seu questionamento é mais interessante, talvez,
do que ele mesmo imagine: “Maldição é ser desrespeitado por quem deveria nos
representar”.
Pois
é, meu jovem! O chato é que Feliciano, na democracia que ainda temos,
“representa”, sim — não necessariamente os seus anseios, mas representa! O fato
de que a pauta dele não seja a sua não o torna ilegítimo. E vou lhe explicar,
meu bom jovem, por que isso é uma garantia também para você: ou bem se
considera que toda representação, no escopo do estado de direito, da
legalidade, é legítima no Congresso, ou bem se considera que certos grupos não
têm o direito de existir.
Nesse
segundo caso, rapaz, você abre as portas para que, amanhã ou depois, uma nova
maioria ou uma nova “verdade influente” casse o seu próprio direito de se
manifestar. Entendeu como funciona a democracia? O democrático não é o que eu
quero; o democrático não é o que os outros querem; o democrático é haver regras
pactuadas — também de forma democrática! — para que todos esses quereres possam
se articular e conviver.
Impor-se
na base do berro e da intimidação física não está entre as regras.
Encerro
com uma pergunta ao deputado Henrique Eduardo Alves: a tolerância com a
gritaria e a violência só vale para esse grupo que ora se manifesta, ou
qualquer outro que resolva inviabilizar o funcionamento de uma comissão conta
com o apoio da presidência desta Casa? Que tal, presidente, fazer uma espécie
de manual listando os grupos que têm licença
especial para partir para a porrada e para a intimidação?
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