Médicos vêem crise global de falsificação de remédios
A estimativa é de que esse mercado
movimenta US$ 75 bilhões de dólares por ano
Moraes Filho da redação do Manancial de Carajás, com
informações da Folha de São Paulo
Quando a multinacional Pfizer contratou John Clark, um
ex-funcionário de alto escalão da Alfândega dos Estados Unidos, para coordenar
sua divisão de segurança e propriedade intelectual em 2008, a empresa
colecionava relatos de casos de falsificação de 20 de suas drogas, incluindo o
Viagra, a droga mais visada no mundo por esse tipo de crime.
Cinco anos depois, 60 drogas do laboratório estão sendo
alvo do mesmo crime. Não existe um levantamento preciso sobre o mercado de
medicamentos falsos, mas a opinião de sanitaristas, laboratórios e agências de
fiscalização é que há uma crise.
“O problema está crescendo exponencialmente agora”,
afirma Clark. “A estimativa geral é de que esse mercado movimenta US$ 75
bilhões de dólares por ano.”
Clark foi um dos palestrantes num seminário promovido, no
último domingo, pela AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), que
reuniu cientistas e juristas em Boston.
Um relatório do Instituto de Medicina, a divisão de saúde
da Academia Nacional de Ciências dos EUA, pede à Organização Mundial da Saúde
que lidere a produção de um tratado internacional para combater o problema.
O documento foi preparado na esteira dos casos de
falsificação do medicamente oncológico Avastin nos EUA, mas reconhece que as
regiões mais afetadas são as mais pobres. Na África já foram achadas fraudes
das 20 drogas mais usadas contra pneumonia, diarreia e malária, as três
principais causas de mortalidade infantil no continente.
No Sudeste Asiático, onde a malária também é endêmica,
36% das drogas contra a doença são falsas, estima um estudo do sanitarista Paul
Newton, da Universidade de Oxford, que coordenou o seminário em Boston.
O Brasil também é bastante afetado: é o décimo país com
maior número de detenções ou prisões por falsificações e o quarto no ranking de
incidentes mantido pelo Pharmaceutical Security Institute, conselho de combate
a danos de propriedade intelectual que reúne as 25 maiores farmacêuticas do
mundo.
VENENO
Os medicamentos falsificados afetam a saúde pública não
só por serem inócuos, pois muitos deles são deliberadamente nocivos. Alguns
contêm de tijolo e gesso a tinta com metais pesados, pesticidas e veneno de
rato.
Ao analisar um lote de drogas anti-HIV, o bioquímico
Facundo Fernandez, do Instituto de Tecnologia da Georgia, descobriu que a
pílula tinha um antibiótico que nada tem a ver com prevenção da Aids. Por que
usar um ingrediente ativo alterado, se é mais barato não usar nada?
“Se você toma um remédio e ele não tem gosto de remédio
nem efeitos colaterais, você começa a desconfiar muito rápido.”
O bioquímico desenvolve métodos para analisar drogas, um
dos principais gargalos para a fiscalização. Os equipamentos que revelam
rapidamente a composição de uma droga são grandes máquinas de laboratório, e
investigações de campo têm de usar aparelhos menores.
O principal problema para detectar drogas falsas hoje é a
alta qualidade das cópias das embalagens.
“Os inspetores de remédio na maior parte do mundo não
carregam nenhuma ferramenta a não ser seus próprios olhos”, diz Newton, de
Oxford.
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