Ex- governadora Ana Júlia Carepa responderá na Justiça por improbidade
A ex-governadora Ana Júlia
Carepa e outros cinco agentes públicos são alvo de uma Ação Civil Pública por
improbidade administrativa movida pelo Ministério Público do Estado (MP).
Todos
são acusados de utilização indevida de cerca de R$ 366 milhões em recursos
emprestados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O
dinheiro dessa operação de crédito deveria ter sido aplicado obedecendo à
proporcionalidade estabelecida no artigo 6º, incisos I a IV da Lei Estadual nº
7.424/2012, mas não foi o que ocorreu, conforme relatórios e nota técnica da
Auditoria Geral do Estado (AGE), encaminhados ao MP.
Além da distribuição
irregular dos valores citados, contraídos por meio do chamado “empréstimo 366”,
a prestação de contas dessa operação de crédito teria sido fraudada, com a
apresentação de 19 notas fiscais já apresentadas nas prestações de contas de
outros dois financiamentos: Contratos de Financiamento nº 21/03718 (Banco do
Brasil) e nº 21/03716 (BNDES). Foi identificada também a ausência de prestação
de contas em relação à parte dos rendimentos de aplicação financeira, no valor
de R$ 455.711,44.
Além de Carepa, responderão
ao processo, na condição de réus, o economista José Carlos dos Santos
Damasceno, os dois ex-presidentes da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa)
– Edilson Rodrigues de Sousa e Sérgio Roberto Rodrigues de La Roque - o
ex-diretor financeiro, Maurício Otávio de Almeida, e a ex-chefe da unidade de
gestão financeira, Maria Leonor Barros, também da Cosanpa.
A ação é de autoria da
Promotoria de Justiça de Direitos Constitucionais Fundamentais, Defesa do
Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa de Belém, que tem como
titular Firmino Araújo de Matos. O caso foi distribuído para a juíza Cynthia
Beatriz Zanlochi Vieira, da 3ª vara da Fazenda Pública da capital.
Firmino pede a
indisponibilidade dos bens dos envolvidos para garantir o integral
ressarcimento do dano ao erário, com o bloqueio de valores em contas bancárias
e aplicações financeiras e, caso o montante não seja suficiente, a
indisponibilidade dos bens imóveis e veículos, além de sanções previstas na lei
de improbidade administrativa. Também é pedida a suspensão dos direitos
políticos de cinco a oito anos.
REPASSES: Segundo o estabelecido na lei aprovada pela
Assembleia Legislativa do Estado, 51% dos recursos do empréstimo deveriam ir
para os 143 municípios do Estado, considerando o indicador populacional; 33%
para as despesas de capital - obras e instalações, equipamentos e material
permanente - e 11,5% para aplicação, com valores iguais, indicados individualmente
através de emendas parlamentares.
Os 4,5% restantes dos recursos ficariam para
livre aplicação pelo governo do Estado. Ocorre que, de acordo com a Ação Civil
Pública, o que a lei estabelecia não foi cumprido por Ana Júlia e seus
auxiliares, pois os repasses não seguiram o estabelecido.
Os relatórios da AGE mostram
que, a partir da análise da prestação de contas apresentada ao BNDES, é
possível assegurar que somente pequena parcela dos recursos recebidos por força
da assinatura do contrato de financiamento foi aplicada em despesas de capital
listada no Anexo II da lei n. 7.424/2010. Os percentuais de repasse previstos
para os municípios e às emendas parlamentares também foram descumpridos,
segundo a acusação.
Prestação de
contas questionada pela AGE: A
AGE concluiu também que não houve a regular prestação de contas do valor de R$
79.694.142,84 e que foi empregado de maneira indevida o montante de R$
12.329.462,48 para pagamento de despesas correntes na Cosanpa.
Para Firmino, os
acusados “concorreram para a configuração das condutas ímprobas enfocadas nesta
ação de diferentes maneiras, de acordo com a posição que ocupavam na estrutura
do Poder Executivo do Estado do Pará ou da Companhia de Saneamento do Pará, no
momento da prática das mesmas”.
Ana Júlia rebateu as
acusações afirmando que as denúncias “não são fato novo. O mesmo promotor já
apresentou outra ação baseada no mesmo relatório da Auditoria Geral do Estado.
Ou seja, trata-se de mais um factoide requentado para desviar a atenção da opinião
pública dos graves problemas pelos quais passa o Estado do Pará”, diz Ana
Júlia, acrescentando que estas acusações já foram rebatidas anteriormente.
“Está provado que nunca foram entregues notas fiscais fraudulentas ao BNDES e o
dinheiro foi aplicado corretamente.
Assim que for notificada,
apresentarei as provas à Justiça e mais uma vez porei fim a esta falsa
polêmica”. Edilson Rodrigues, procurado por telefone pelo DIÁRIO, não retornou
às ligações feitas para o celular dele.
Como a ação foi impetrada ontem, nenhum
dos acusados recebeu a notificação judicial para apresentar defesa no caso.
Isso deve ocorrer durante a próxima semana.
Para o diretório estadual do
PT e a bancada do partido na Assembleia Legislativa, os recursos recebidos no
governo passado foram aplicados de forma correta em diversos projetos, entre os
quais Santa Casa, Navegapará, pavimentação de estradas distritos industriais e,
ainda, contrapartidas para obras do PAC.
Sobre a acusação de
duplicidade de notas fiscais, informou que um estudo do PT comprovou que o que
foi identificado como supostamente “pago em duplicidade” foi destinado a 81
municípios paraenses, através de convênios, sem desvios de qualquer valor. O
partido desafia que seja provado que houve pagamento em duplicata de um mesmo
serviço.
Foto: Divulgação Fonte: Diário do Pará Postador: Manancial de Carajás
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